Meus Cordéis


* Nordestina  autêntica, me divirto cordelando...
 Aline Romariz


 Não, bula, não homem

Não bula não, homem...
Essa coisa de forró é "compricada"
 E a distância, essa " maivada"
só nos  faz imaginar
  o "congote" "arrupia",
as pernas "treme"
num tem jeito que dê jeito
não dá  nem pra começar...
 Eu já vi " paia avoando"
e "sonfoneiro forroziando"
até o sol raiar...
Mas, não " bula" não, homem...
Deixe tudo como está,
você aí e nós pra cá
 Se nós" for juntar os passo"
 nós   "vai perdê" o compasso
Não comece a provocar
É que nós não "perde" o mote
e em matéria de "congote"
 nós "num pode" se apegar.

 Aline Romariz

MATUTANDO


Ô Teresa minha amiga
 tava lendo  no portá
cê tá sozinha quirida
 num simporte isso é normá
nóis é muié independente
 dona do poprio nariz
os homi tem medo da gente
 eita raça disinfeliz
mais nóis vamo poetando
coisa qui nóis sempre quis
deixa eles se assanhando
pras muié meretriz
um dia eles adescobre
 que pra pudê ser feliz
tem que se achegá na gente
esses desinfeliz
nóis  qué homi diverdade
proquê  cum homi covarde
nois num vai mais querê bis



Aline Romariz

 Sodade


Ô mulé nem fale nisso
pra butá invenja in mim
faz muito tempo qui priciso
 é passeá por aí
 ir lá na " Paripueira"
 cum meus irmão reuni
dançá xote,forró e baião
pra mode me adivirti
e as lumbriga tão assanhada
doida por uma buxada
acarajé,mungunzá,sapoti
e minha pele nem se fala
 chega tá é muito arva
num tem praia puraqui
eita sardade danada
daquelas qui dói na arma
num consegue arresisti
 nossa terra é arretada
festeira, doce e linda
 canto de gente feliz
a nossa Alagoas querida
 a terra de Ceiça Lima
 e de Aline Romariz


 Aline Romariz


Ceiça Lima minha linda, vamos proseá?
  falá na nossa língua
 pra vê se o povo sabe falá?
 Hoje eu tô descabriada
 fiz umas atrapaida
 nem vale a pena contá


Eita Aline tu é arretada
gosta mêrmo de resenhá
Nun se avexe te dou garapa
que prá tu não aperriá
Tô nessa minha nega
tu pode se aproxegá
vamu mostrá pra esse povo
as versidades do nosso Portá


 Minina nem te conto
 tu num vai acreditá
 fiz uma prova arretada
 nem precisei pescá
 o professor quando me viu
 a nota nem quis me dá
olhou pra mim todo danado
  e disse:" tu só sabe é gazeá"


Oxenti, num tou dizendo
essa Aline é de lascar
mulhé tu num divinha
o qui fiz hoje lá na Ufá
uma prova de gegrafia
qui quase perdi o kengo
se eu num tirar nota boa
inté a burracha eu vendo


Ô mulé tu tá é doida
 mai é de tanto estudá
 tais pricisando de um xamego
 vai lá no "buga" dançá
quem sabe tu tem sussego
 dexa o kengo relaxá


Oxê nem me fale do "buga"
milhó lugar no mundo num há
tem moço e moça bunita
que também sabem dançá
quando vou naquele canto
só saio ao sol raiá
de pé doendo e perna bamba
de tanto saracutiá


 Nem vô contá pra você
 as doidiça que fiz por lá
 mió num falá é nada
deixá tu imaginá
 arrumei um pé de carça
  mas  é mió  me calá
vai que tu conhece o  moço
e vai querê se alvoroçá


Valeime minha nossa sinhora
milhó de assunto mudá
tu vai ficar basbacada
cum que já aprontei pur lá
milhó deixá tudo quieto
pro povo num se espantá
tô dizendo minha gente
essa mulé bota prá pocar
pur isso que gosto dela
é daquelas mulé porreta
que num se deixa rebaixar


 Oxente e apois?
É mió nois descansá
mas de uma coisa tenha certeza
tô cum uma sardade danada
do povo do meu lugá
 chego inté ficá chorosa
quando cumeço a me alembrá
 vamo ficando por aqui
e logo logo eu tô aí
pra nois saracutiá


Aline Romariz/Ceiça Lima



PAPO DESENCONTRADO

Ô fravinha, minha linda
me responda se souber
tu já pescou na escola?
Tu sabe como é que é?

Pescaria na escola
Aline ficou maluca, é?
Onde já se viu isso
Isso é coisa de mulher?

Oxe deixe de besteira
tu tá pensando o quê?
Pescar é colar, Dona moça
tá difícil de entendê?

Agora sim tô entendendo
Pescar que eu sei é no rio
Cê me manda cada coisa
Coisa que ninguém nunca viu

Eita mulé arretada
se vai apelá, perdeu
vou te mandá a gramática
Nordestinês do Zebedeu

Manda pois vou precisar
Você tá é me zoando
Quem sabe esse seu Zebedeu
Dá um jeito aqui "ni eu"

Essa agora tu vai sabê
preste bem atenção
tu descabreia muito fácil
Ou não tem vergonha não?

Olha aqui, Dona moça
Não quero ser má educada
Mas se continuar assim
Vou te dar é bofetada

Tá bom, Dona fravinha
não fica brava "com eu"
tu nasceu aqui pra baixo
não precisa zombar d'eu.
Descabrear é ficar sem graça
Pra quê escapeteá?
Tu num sabe é de nada
mas eu vou te ensiná.
E vou chamar é a Andréa
Ela não vai me bater
nós nascemos lá "em riba"
nós "consegue se entendê ".

Flavinha mais Eu


O DIFUNTO ARESPOSTOU

Valei-me  meu Padim,Pade Ciço
  Já vi de tudo nesse mundo de  Deus
 Só num tinha visto ainda
 difunto arespostar puema meu

 Eita coisa engraçada
 por essa eu não esperava não
  né que o mundo tá virado...
 Sai pra lá assombração


 É coisa da bixiga lixa
 tá qui nem Tonho de Maria
 Tomou uns mé na venda da Zefa
 danou a decramar poisia

 Foi tanta no mundo, seu moço
 que o povo ficou expressionado
 a zefa vendeu cachaça e muita
  Tonho ficou bebo lesado

 Mas o pior oces num sabe
 O Tonho faz tempo se acidentou
 tinha dez ano que num falava
 foi só bebê a marvada 
  que inté decramou


  Num priciso nem dizê
 a venda da Zefa mudou
 vende cachaça qui nem água
  até praca já botou

 Essas coisa de milagre
 nós num pode espricar
 tô dizendo ,seu moço
 vi difunto arespostar


 Vou rezá pr' ele subi
 será que não deixaram ele ficá?
 O homi deve de tê tanto pecado
 que São Pedro mandou vortá


 Faz isso não Santindo porteiro
 Deixa o difunto por lá
 ele aqui num tem valia
 E nem os verso de sua poisia
 vale a pena decramá.


Aline Romariz


Rescordação

É são joão nas Alagoa
e nóis se bota a rescordá
das festa da nossa infânça
coisa boa de alembrá.
Na rua nóis fazia um cercado
com paia pra decorá
bandeira pra todo lado
no chão, pó de serra pisado
pra ninguém escorregá
ensaiava  quadrilha bunita
pra ganhá  primeiro lugá
as moça vestida de chita
os home de carça cumprida
pa nois pudê farreá...
 Todo mundo se ajuntava
pra mode anganriar
uns troco pro sanfoneiro,
qui num podia cochilá .
Do lado de fora a fogueira
 tão grande que doía, só de oiá
o cheiro do mio assando
e as bombinha estourando
nóis se bota a rescordá
tinha pinga lá da  Bica
 da casa de seu Vadico,
angú,pamonha ,mio cozido
pipoca e mungunzá
nóis forrozava a noite inteira
e num pense que essa festeira
tinha dia pra acabá
enquanto no calendáro junho
ainda existia,
num tinha  gente no mundo
que nos fizesse pará
era São João todo dia
e os amigo se reunia
pra mode comemorá.
Hoje o cheiro bom  do mio
só selve pra  alembrá
chora nêgo,chora nêga
qui o tempo num  vai vortá.
Mas mesmo assim nóis se reune
numa farra de lascá
na porta uma fogueira
uma sanfona forrozeira
ninguém deixa de dançá
é que os amigo do peito
num pode se separá
quando chega são joão
nóis fica tudo ouriçado
nóis qué vê paia arribá
e já tem tudo contatado
nóis tem qui se incontrá
qué pra matá a sardade
dos tempo da mocidade
lá no nosso arraiá.

Segunda vida minha

 Quem diria  mainha
  hoje faz aniversáro
 a segunda vida
 dessa vida minha
 O meu galego danado
  de zóio azul arregalado
 já é home formado
 anda todo empobado
 e já fala em casá.
 O tempo passa ligeiro
 ainda ontem os cueiros
 eu tinha de lavá
 Hoje ele anda sibiti
 todo lindo nos "trinque"
 da gosto de olhá
 quando nasceu o danado
 era cumprido e tão magro
eu nem pude acreditá
   me deu o susto da peste
imagina que o pivete
 resolveu se apressar
 nasceu um mês adiantado
 me pegou desprevinida
 eita galego arretado
  até pra nascê fez babado
  me deu um trabalho danado
  pra mode engordá.
 Mas hoje graças a Deus
 É homi bunito encorpado
de sorriso exagerado
 dá gosto de espiá.
 Curintiano dos roxo ,
daqueles que não abandonou
  e só pra me agradá
diz que é CSA
o time do seu avô.
 Eu sou uma mãe orgulhosa
  de todos os filhos  meus
4 amores 4 rosas
quatro presentes de Deus.
E o meu Luquinhas querido
 hoje tá de parabéns
E eu rezando dobrado
pro meu galego danado
 com a graça do criador
continuar seu caminho
sempre regado de amor.


Aline Romarriz